Sexta, 13 de fevereiro de 2015 - parte 2



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O texto abaixo é do século passado, da década de 90 e, claro, tem mais de 20 anos.
É do jornalista e professor universitário Luiz Alberto Scotto.
Criou-se em Porto Alegre, mas vive há anos em Florianópolis.
Foi um dos melhores repórteres que conheci, porque, mesmo sendo da editoria de polícia, conseguia unir a informação com bom humor.
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O texto é uma singela homenagem a gauchada que fica 4, 5 horas preso na BR-101, em Laguna, dando risada, e depois chegam naquele "paraíso" para serem explorados pelos catarinas.


DE BOIOLAS E DE PLANONDAS


Sempre era madrugada quando lembro de Porto Alegre. Havia um corpo, sangue e um policial dizendo: “Moleu, moleu”. Mais de dez anos se passaram daquelas noites de reportagem policial. As putas, os canas, os bandidos, assistindo ao Leonid Streliaev e ao Pereio demolindo o bar do Bolinha, lá na Ramiro. Essas coisas aconteciam quando havia, em Porto Alegre, dois times de futebol. Um se chamava Internacional, outro era o Grêmio. Faz muito tempo.
Apesar da proximidade, o meu contato com os porto-alegrenses é durante o verão. E hoje parecem outra raça. Invadem Florianópolis e repetem aqui a geografia daí. Os inteligentes, o pessoal do Bom Fim, vêm  para  a Lagoa da Conceição; os pobres e burros, os  da Azenha, para o Campeche; os falsos ricos, os que moram no Moinhos de Vento, preferem Jurerê. Os ricos e inteligentes não vêm, vão para Punta del Este.
A gente continua gostando de Porto Alegre e dos porto-alegrenses. E não é verdade que nos escondemos de vocês, durante o verão, em Florianópolis. Mas é importante dizer: vocês são um pouco desagradáveis.
Aquele negócio de tomar chimarrão com água pela cintura, dentro do mar, na segunda coroa, não dá. A gente sabe que ninguém toma mate dentro do Guaíba. Quem querem impressionar?
Outra coisa que, francamente, pega até mal é esse sotaque. Passamos dez meses sendo gozados pelos catarinas: “Sabe por que o Papai Noel passa no Rio Grande do Sul? Pra trocar os veadinhos”; “sabe por que os gaúchos vêm tantas vezes a Santa Catarina? Pra procurar o pai”. A gente reage, a gente também faz piadas. Mas aí chegam vocês: “Me dá um sanduíche de mortadééééééla”. Eles ganham fôlego.
O porto-alegrense é sabichão. Ele conhece o mar, conhece a praia, ele conhece peixe, sabe tudo. A família se reúne para comer linguado com molho de camarão. (Nunca é linguado, é claro. Servem peixe-espada.) Mas o papai-sabe-tudo experimenta e aprova. O que vem depois é como se estivessem desmontando uma bomba.
– Achei outro espinho.
– Esse espinho quase me pegou!!
– Deus me livre, comer esse peixe! – diz a mãe.
– Acho que está cru.
E o pai finaliza:
– Que baita peixe, o linguado!!
Não vou falar dos pobres, porque de pobre não se fala. Mas aquele pessoal da Azenha se comporta como se estivesse a milhares de quilômetros de Porto Alegre. Já chega querendo comer churrasco. Os inteligentes sentem saudade das livrarias, do Nei Lisboa, dos “espaços culturais”. Os falsos ricos passam o verão inteiro em Canasvieiras e Jurerê, batendo boca com argentinos.
E os surfistas porto-alegrenses? Só tem equivalente no catarina domador. Aqueles guris se agarram nas planondas que só vendo! E o pessoal da D-20, “cabine-dupla”? E os que vão à praia reclamar da areia? E o volume das vozes, os gritos, ninguém consegue ficar perto.
E tudo no “Portinho” (dizem bem assim!) é bom. Vocês contando, para um catarina, sobre a modernidade do aeromóvel, é qualquer coisa. Até eu fico encantado. Aí lembro: o aeromóvel partiu há mais de dez anos e ainda não chegou ao fim da quadra. E a vista que se tem do Morro da Polícia é D-E-S-L-U-M-B-R-A-N-T-E!!
Falam do Brique da Redenção: “ponto de encontro dos intelectuais”. O catarina ouve de olhinhos saltados e eu recordo do público nas manhãs de domingo. Aqueles boiolas carregando os filhos nos ombros e o chimarrão nas mãos, garrafas térmicas e livros enfiados nos sovacos, e falando em abraçar o prédio da Prefeitura. Um horror!
Acho que vocês poderiam mudar um pouquinho. Não precisam dizer óióióióióióióiói e nem se chamar Valmi. Mas, pra começar, um calção mais discreto – de até oito cores – pega bem. Não tragam aquele amigo que gosta de jazz experimental e come pastel de gengibre porque ele vai encontrar aqui uma “vida alternativa”. E vai ficar. Não tragam também os gênios, mas acho que é pedir demais. Periga não aparecer nenhum porto-alegrense.
Uma coisa para finalizar. Ou vocês tomam jeito, ou ficam por aí mesmo. O Lami, ouvi falar, está joinha!!!
P.S. – Agora me expliquem o seguinte: por que ainda sinto tanta saudade de Porto Alegre?


4 comentários:

  1. A propósito: Quem é que está dando espaço pra este mala do Rafael Colling, no esporte da Gaúcha? O cara alem de ruim, é insuportável! Ou é falta de pessoal ou mais uma panela da RBs, não é possível.

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    1. Panela. Nessa época de lobos e ovelhas, formam-se muitas panelas de lobos, mas é aquela coisa; Quem poupa um Lobo, sacrifica uma ovelha...

      Fernando Fagundes/AMS

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    2. Também acho esse cara ruim e insuportável. Mala, chato, canônico, fala arrastada, enfim, tudo de ruim

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  2. Sentou o relho no Piangers, por um texto bem fraco e nada ofensivo, e aplaude esse... Dois pesos, duas medidas.

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