Bom Dia!! Quinta, 26 de setembro de 2013

O TEMPO NÃO APAGA

No final de 1976 soube que havia passado no concurso do Banco do Brasil. Deixei passar as festas de final de ano e fui na agência central, em Porto Alegre, para saber o que iria acontecer comigo. Bah, teria que me apresentar na agência de Palmeira das Missões.
- Onde é isso - perguntei ao cara que me atendeu.
- Lá pelos lados de Carazinho, Sarandi.
- E onde é isso?
Cheguei em casa e fui conferir com a minha mãe onde era a tal cidade.
Chegamos a uma conclusão: fico lá os dois meses de férias, esperando que me transfiram para Porto Alegre.
Tinha 22 anos. Fazia Jornalismo na Famecos-PUC e Filosofia na UFRGS. Estava a mil.
Fiz a carteira do trabalho, comprei umas camisas brancas (era obrigatório) e encarei a tal Palmeira. Numa sexta.
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A viagem era terrível. O velho ônibus saiu de Porto Alegre às 10 da noite e chegou lá no início da manhã. Depois de Carazinho a estrada não era asfaltada. Ao desembarcar, a impressão que tive é que estava chegando numa daquelas cidades de faroeste. Uma terra vermelha por tudo. O taxista me indicou o melhor hotel. E era muito bom, mesmo. Não lembro o nome, mas ficava na avenida principal, a Independência. Tinha um bom restaurante.
Na segunda de manhã fui na agência. O cara que me atendeu:
- Colega, coloca pra dentro da calça a camisa e fecha até o penúltimo botão.
Não tinha a menor ideia de que o negócio era cheio de regras.
Assina aqui, lê isso e tive a boa notícia: ganharia 3.210 cruzeiros. Para terem uma ideia, com 200 cruzeiros se passava um final de semana maravilhoso.
Gostei disso.
E mais: abriram uma conta pra mim com um salário, de ajuda de custo, mais um cheque especial. Bah, iria fazer muita festa!!
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No mesmo dia fiquei sabendo que pelo menos 20 caras eram de Porto Alegre e aguardavam transferência. Me tiraram a esperança: não havia a menor chance de ser transferido.
Era muito bom, porque era festa e festa durante a semana em Palmeira e era festa e festa em Porto Alegre nos finais de semana. Tinha umas parcerias de fé.
Só aquele negócio de ser bancário era muito chato. Não acertava nada, fazia tudo errado. Estava sempre trocando de tarefa.
Sei lá o motivo, mas em março resolvi trancar as matrículas nas faculdades e fiquei por lá.
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Foi, como sempre digo, um ano perdido. Uma pena. Fazia muita festa, tudo bem, mas perdi dos semestres das faculdades.
Em compensação, éramos uns 50 caras na agência. Estávamos todo dia na sede da AABB. Futebol de salão, pingue-pongue, essas coisas. Tinha uma boa piscina. Muita cerveja e na noite a boatezinha da cidade. A Bulha - não lembro do nome do hotel, mas a boatezinha não esqueci. Tinha dois ou três bares legais.
Com raríssimas exceções, todos os colegas viraram amigos.
Detalhe: meu apelido era BARZAN, o Tarzan dos Bares. Muita gente na cidade me conhecia por causa do apelido. Era um cara até popular.
Era amigo de todos, mas convivia mais como Coalhada (Jader Salles Brauner), o Barbudo (Luiz Reni Marques), o Xuel (José Nonnemacher) e o Índio (Luis Alberto Floriano Machado Gonçalves).
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Em fevereiro de 1978 decidi pedir demissão. O meu negócio era ser jornalista. E ponto.
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Minha vida seguiu como queria. Faculdades, trabalhava como um animal, ganhava menos do que em Palmeira e fazia festas.
Na campanha eleitoral de 1990 fui da assessoria de imprensa do candidato Alceu Collares - que foi eleito governador. Percorri todo o Estado. Lá pelas tantas fomos a Palmeira das Missões, onde iríamos pernoitar.
No final da tarde, estava com o repórter fotográfico Ricardo Stricher em preparação para começar os trabalhos etílicos. Pedi a ele que me acompanhasse até a agência do Banco do Brasil para ver se encontrava alguém.
Meu Deus, foi uma coisa impressionante. Claro que a agência estava fechada. Acreditem, praticamente todos os funcionários saíram para me cumprimentar. Foi uma festa na calçada. Muito legal.
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A partir daí e mesmo neste século sempre recebo emails de ex-colegas. É muito legal e fico numa alegria danada.
Nesta semana, recebi mais um:

Olá Previdi,
Estou querendo acreditar que és o mesmo Previdi, que trabalhou no Banco do Brasil em Palmeira das Missões, na decada de 70. O famoso "BARZAN". Se positivo fui teu colega lá. Um abração
Luiz Antonio ZINN

Não é legal, depois de tantos anos?
Respondi e perguntei por onde andava o Zinn:

QUE BOM TE ENCONTRAR. ESTOU MORANDO EM SÃO PEDRO DO SUL-RS. EU E A MARISA JÁ TEMOS FILHA CASADA MAIS AINDA NÃO TEMOS NETOS. ESTAMOS APOSENTADOS (EU 8 ANOS E A MARISA 18). QUANDO APARECERES POR ESTAS TERRAS, EM SÃO PEDRO É SÓ PERGUNTAR PELO ZINN DO BB QUE TE INFORMAM ONDE MORO.
UM ABRAÇO
ZINN


Li os dois emails várias vezes, porque fico muito contente com este tipo de amizade.
Um negócio que não tem explicação.
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Por isso o título de hoje: O TEMPO NÃO APAGA.

2 comentários:

  1. O Jader Salles Brauner é filho da Professora Darquinha de quem fui aluno de Francês em São Lourenço do Sul e do ex-prefeito e médico Dr. João Batista Brauner.

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  2. O "Xuel" José Nonnemacher é tio da Gisele Bundchen. É irmão da mãe dela.(Vania Bundchen).

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