Segunda, 19 setembro 2011

Um bom debate
Quando a Zero Hora propõe um debate, determinando um assunto, o resultado é pura brilhatura inconsequente.
O legal é quando o debate se dá sem combinação.
É o que aconteceu na sexta passada.
Na coluna do Wianey Carlet e uma crônica do David Coimbra.
Acompanhem.

Wianey Carlet:
Hinos
Não aceito que nutrir sentimentos patrióticos possa descambar para um nacionalismo fascista e, até mesmo, para a xenofobia. Trata-se de uma relação exagerada e, até, preconceituosa. Enaltecer a cidade em que se vive, Estado ou país, sempre representados por seus símbolos, corresponde a amar e defender o próprio lar. Tampouco cabe comparar o nacionalismo afetuoso e produtivo com o nazismo de Hitler, sedimentado sobre os mais reprováveis sentimentos racistas e socioeconômicos. Hitler era anticomunista e nem por isso se dirá que o capitalismo gera o fascismo. Enfim, tudo isto para dizer que as execuções dos hinos Nacional e Rio-grandense, antes dos jogos de futebol, apenas oportunizam um momento de reverência à terra em que nascemos e vivemos. Respeitar e cantar os símbolos nacionais e regionais não compromete a ética e o bom convívio social, como defende a intelectualidade alternativa. Os vereadores de Porto Alegre darão um passo atrás se extinguirem a obrigatoriedade de execução dos hinos antes dos jogos. Se assim fizerem qual será o avanço?
Alegação – Dizem os adversários dos hinos no futebol que, no inverno, principalmente, comprometem-se as propriedades do aquecimento físico pré-jogo quando os atletas se perfilam para a execução dos hinos. Ora, nunca se ouviu reclamação dos preparadores físicos. Nem seria razoável, uma vez que é executada apenas uma pequena parte do Hino Nacional e do Hino Rio-grandense tem letra curta. Minhas filhas, ensinei-as desde cedo a venerar os símbolos da Pátria. E, sinceramente, não se identifica vicejar no seu caráter traços fascistas, como prega a intelectualidade libelulista.

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David Coimbra
Os patriotas

Foram tantos os pedidos, tão sinceros, tão sentidos, que decidi escrever sobre o gauchismo e quejandos, candente assunto do Sala de Redação de quarta-feira passada. Que foi o Lauro Quadros encerrar o programa e já começaram a desaguar mensagens por todas as vias de comunicação possíveis. Gente me criticando, gente me apoiando, gente ponderando. O debate era sobre a execução ou não do Hino Rio-Grandense nos estádios. Disse, e repito, que expressões de nacionalismo e patriotismo são em primeira instância ingênuas e, em segunda, nocivas.
O nacionalismo nasceu, de fato, com a Revolução Francesa. Desde então é que foram implantados os hinos, as bandeiras e a noção de fidelidade a um lugar interfronteiras. Antes, devia-se fidelidade ao rei ou a um senhor feudal. Os casos mais próximos do patriotismo moderno eram os das cidades-estados gregas e da república romana. Havia, nesses casos, fidelidade à classe, à condição de cidadão.
As mais sangrentas guerras do mundo se originaram do nacionalismo. As maiores atrocidades cometidas no mundo se originaram do nacionalismo. Porque o nacionalismo, naturalmente, desvia-se para a exclusão. Você cultua o lugar em que nasceu, as suas tradições, os hábitos dos seus conterrâneos, e logo está achando que o seu lugar, as suas tradições e os seus hábitos são melhores do que os dos outros.
Isso não significa, obviamente, que você não deva respeitar, entender e estudar o seu lugar, as suas tradições e os seus hábitos. Sou um entusiasta da História com agá maiúsculo. Se você conhece a História, você entende o seu passado e, se você entende o seu passado, sabe o porquê das ocorrências do seu presente. É um dos princípios da psicanálise. Mas a História é diferente da tradição e do folclore. A tradição e o folclore invadem o terreno da mitologia. Donde, a propriedade do verbo “cultuar”, quando se fala em tradição e folclore. O “culto”, a “veneração” dos heróis pátrios. A tradição está repleta de heróis. A História, se estiver repleta de heróis, talvez não seja mais História, seja lenda.
Há que se respeitar as tradições, mas o verdadeiro civismo é o respeito às pessoas. É compreender que todas as pessoas são iguais, mesmo que nasçam em lugares diferentes, tenham cores diferentes, religiões diferentes e que cantem hinos de letras diferentes. Aliás, gosto dos hinos porque, se você estudar as letras deles, de quaisquer hinos de quaisquer países, constatará que todos ressaltam as qualidades guerreiras dos povos. Todos são bravos, são corajosos, são impávidos colossos, todos cometem façanhas que servem de modelo a toda a Terra. E, se todos são assim tão valentes, todos, afinal, são iguais.
De certa forma, esse amor-próprio elevadíssimo é positivo. Nós aqui, no Rio Grande, nos ufanamos de ter a mulher mais bonita do mundo, o clássico de futebol com a maior rivalidade do mundo, o mais belo pôr do sol do mundo, o melhor centroavante do mundo e, agora, a mais linda rua do mundo. Pode ser tudo bobagem fátua, mas não faz mal acreditar. O mal se faz quando a tradição prende o homem ao passado e, pior, a um passado que nunca existiu. O mal se faz quando o regionalismo se transforma em exclusivismo cego. O mal se faz quando não se percebe que há muito para se ver lá fora e que, aqui dentro, é preciso olhar para frente, não para trás.

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